Precursor do humor na internet, o site Humor Tadela saiu do ar no início de maio deste ano, após quase 16 anos de atividades. Para quem não o conhecia, consistia em piadas, sobre diversos temas, e pelo qual algumas destas tiradas tornavam-se conhecidas por entrarem em correntes de e-mail. Um sucesso na web, mas que não vingou financeiramente. Até aí, parece uma notícia comum, sem qualquer amplitude para quem produz conteúdo e o divulga na rede de computadores. Mas não. O fim do Humor Tadela significa, ao mesmo tempo, o grande dilema de transformar a audiência on-line em uma atividade rentável.O Humor Tadela não era coisa pequena, especialmente em seu auge, meados da primeira década do Século 21. Em 2006, chegou a contabilizar, ao mês, quatro milhões de unique visitors (visitantes únicos) em seu site, com 280 milhões de visualização ao mês de suas páginas. Não é pouca coisa, não. E mais: mesmo em decadência, ainda no ano passado tinha cerca de um milhão de visitantes únicos e quase 20 milhões de visualização por mês. Muito mais do que qualquer audiência de jornais de bairro, por exemplo, os quais vivem aos milhares no País.
Em entrevista ao blog de Rodrigo Martins, no portal Estadão, o criador do site Humor Tadela, Sérgio Batista, fala dos desafios, dificuldades e dilemas que passou em quase duas décadas. Sem meias palavras, sentencia: “O nosso modelo de negócio, baseado exclusivamente em publicidade, é um modelo fracassado”. E o que ele diz aplica-se a qualquer tipo de site, de humorísticos a noticiosos, do portal de A Tribuna ao do New York Times, definitivamente, é impossível exigir conteúdo de qualidade com apenas o pilar da publicidade. No jornalismo impresso, os pilares sempre foram dois: assinantes e anunciantes.
Batista tem uma visão bastante realista de sua atividade. Ele relembra que o Humor Tadela foi um pioneiro na web brasileira – e, não há dúvida, realmente foi. Talvez tenha sido um dos primeiros (se não, o primeiro) a fazer newsletter (envio de mensagens diárias a internautas cadastrados), cujo mailing chegou a ter três milhões de cadastrados. Chegou até a ter um sistema de bate-papo virtual com cerca de 30 mil usuários, o qual oferecia aos usuários aquelas carinhas do tipo ‘smile’ (retratando felicidade, tristeza, raiva, ansiedade etc) exclusivas.
O Humor Tadela foi um fenômeno na internet, que, infelizmente, acabou. É verdade também que sofreu com outros problemas, como invasão de hacker, que deixou o site três meses fora do ar. Mas, de qualquer forma, como salienta Batista, todos que tenham o mesmo desejo que o dele, de desenvolver um site, terão muita dificuldade por conta da falta de estrutura para captação de recursos financeiros. Prova de que Chris Anderson, autor do artigo “O Fim da Web”, se mostra a cada dia correto. A world wide web, ou o “www”, está morta. E, assim como indústrias afetadas pela internet, como da música, do entretenimento e da informação, a própria web precisa caminhar para ser uma cadeia produtiva mais sólida e, desta forma, deixar de ser o que tem sido até agora: uma bolha.
O Humortadela morreu. Foi Trending Topic no Twitter ontem por conta disso. O site foi pioneiro em humor popular na web. O ano de 1995 já parece muito distante em termos wébicos.
Sérgio Batista, que conheço desde essa época (eu fui colunista do Humortadela), deu uma entrevista explicando o motivo: grana. Ou melhor, falta dela.
Muita gente tentou interpretar pelo viés da 'mudança' do gosto humorístico. Acho improvável. Programas como a Praça é Nossa mostram que ainda há espaço para todo tipo de humor popular. Deve ter sido mesmo a falta de dinheiro.
Quem tenta entrar no site do "Humortadela" se depara com o aviso da "morte"
Um dos primeiros sites de humor na internet, o Humortadela "fechou as portas" neste mês. Embora o criador do site, Sergio Batista, tenha postado a informação - um "It´s over!" (acabou!) no Twitter - no dia 5, saudosos do humor que brincava com charges e jogos levaram o nome do site no Trending Topics nesta terça-feira.O site chegou a virar mania nos primeiros anos de vida, como relembraram os internautas no Twitter. "Humortadela nos TT's... Isso me faz lembrar o bate-papo mais f*** da net. Saudade desse tempo de internet discada nos sábado às 14h.", disse Thuanny Vianna.
O chargista Mauricio Ricardo, que fez fama também na internet e hoje leva suas animações para o reality showBig Brother Brasil, da TV Globo, defendeu o humor do site, comparando-o com o humorístico global Zorra Total. "O Brasil é o país onde Zorra Total ganha o Ibope mas você não acha um pra dizer que vê. Bando de hipócritas. #HumortadelaForever", escreveu em seu microblog.
